quinta-feira, 9 de junho de 2016

Sobre um 1º de Maio

Um dia chuvoso me esperava em 01 de Maio de 2015, dia do meu retorno ao Brasil. Vinte dias em Paris, ao lado do meu noivo, voaram. Entrei pensativa no avião, até um pouco receosa, pensando no mau tempo lá fora e também no mau tempo do meu coração. Eu estava indo embora e isso significava 3 meses distantes daquele que eu gostaria de passar cada minuto da minha vida. Eu estava triste.
Me despedi dele mil vezes no saguão do aeroporto, e trocamos muitas mensagens pelo celular durante o tempo no portão de embarque. Quer dizer, a proporção era de uma mensagem dele a cada três minhas. Não era falta de atenção dele, era apenas um celular antigo em sua posse, que dificultava a rapidez do texto. Para teclar o “C” eram necessários 3 cliques.
Entrei no avião e nos falamos pela última vez em solo francês. Ele me ligou e após rirmos do seu celular retardatário, nos despedimos. Desliguei o celular também, porque a comissária estava sentada à minha frente. Sim, eu estava na saída de emergência! Ótimo lugar para esticar as pernas, posição complicada no caso d’eu ter que abrir aquela porta! Mas, nada iria acontecer, certo? Não sei! Bom, eu esperava que não.

O avião decolou e aquele céu chuvoso ainda me dava arrepios. Menos de 20 minutos depois a aeronave subiu acima das nuvens. Olhei pela janela e vi um tempo firme, claro, nuvens branquinhas abaixo de nós que tampavam a visão da terra firme. Como isso era possível? Lá embaixo um tempo desconfiado, incerto, inconstante, e ali em cima tudo tão claro?

Ah, Senhor, entendi o seu recado, obrigada por desenhar. Que poesia do Criador, que metáfora! Eu olhava sorrindo pela janela e a comissária, ainda sentada, olhava para mim.
O tempo de Deus é sempre firme, nós é que não conseguimos alcançá-lo por nós mesmos. Nossa visão aqui embaixo só crê no que vê. Obrigada, Senhor, por me permitir voar nas suas alturas por este pequenino momento. Obrigada por trazer a calmaria de um dia ensolarado ao meu coração. Obrigada por ser Deus Criador e “Senhor de todos os tempos”: tempo bom, tempo mau, tempo longo, tempo curto, tempo passado, tempo presente e tempo futuro. Obrigada por sempre haver tempo no seu amor, e amor no seu tempo.

Bons tempos pra você!

Abraços,

Hívina




És um senhor tão bonito, Quanto a cara do meu filho
Tempo, tempo, tempo, tempo, Vou te fazer um pedido
Tempo, tempo, tempo, tempo

Compositor de destinos, Tambor de todos os ritmos
Tempo, tempo, tempo, tempo, Entro num acordo contigo
Tempo, tempo, tempo, tempo

Por seres tão inventivo, E pareceres contínuo
Tempo, tempo, tempo, tempo, És um dos deuses mais lindos
Tempo, tempo, tempo, tempo

Que sejas ainda mais vivo, No som do meu estribilho
Tempo, tempo, tempo, tempo, Ouve bem o que te digo
Tempo, tempo, tempo, tempo

Peço-te o prazer legítimo, E o movimento preciso
Tempo, tempo, tempo, tempo, Quando o tempo for propício
Tempo, tempo, tempo, tempo

De modo que o meu espírito, Ganhe um brilho definido
Tempo, tempo, tempo, tempo, E eu espalhe benefícios
Tempo, tempo, tempo, tempo

O que usaremos pra isso, Fica guardado em sigilo
Tempo, tempo, tempo, tempo, Apenas contigo e comigo
Tempo, tempo, tempo, tempo

E quando eu tiver saído, Para fora do teu círculo
Tempo, tempo, tempo, tempo, Não serei nem terás sido
Tempo, tempo, tempo, tempo

Ainda assim acredito, Ser possível reunirmo-nos
Tempo, tempo, tempo, tempo, Num outro nível de vínculo
Tempo, tempo, tempo, tempo

Portanto, peço-te aquilo, E te ofereço elogios
Tempo, tempo, tempo, tempo, Nas rimas do meu estilo
Tempo, tempo, tempo, tempo

(ORAÇÃO AO TEMPO, CAETANO VELOSO)



terça-feira, 31 de maio de 2016

O gato do meu vizinho

Paris, mês de Maio

Uau! Já se passaram alguns meses e faz tempo que eu não escrevo. Mas é que aqui o tempo passa voando... Mentira! O tempo passa muito devagar, isso sim, ainda mais para uma simples estudante como eu. E, sinto falta do estresse cotidiano, sabe? De estar presente nos barracos da família, de reclamar que um amigo sempre chega atrasado nos compromissos, de poder gritar no ônibus “Vai descer”, de comer coisas simples como brigadeiro, coxinha, feijoada... E também, que saudade da área de serviço. Área de serviço? Isso mesmo, gente! NÃO EXISTE ÁREA DE SERVIÇO AQUI. Agora, você imagina, onde vou lavar aquele sapato sujo ou esfregar aquela camisa branca, se aqui não existe o tanque da tão simples área de serviço? A resposta é: NO BANHEIRO!
Gente, é bizarro! A máquina de lavar roupa fica no banheiro! Eu confesso que ainda não me habituei a isso. Aqui, além de tomar banho e fazer as necessidades no mesmo lugar, você ainda tem que lavar a roupa. Às vezes estou no banheiro e a máquina começa a centrifugar. Ela gira mais rápido que a velocidade da luz e faz um barulho sinistro. Gente, que medoooo! O negócio é assustador, parece que vai explodir e todas as peças irão voar.

Outra coisa sinistra no meu banheiro: há um cano que vai do chão ao teto. Não, não é um objeto para fazer poli dance, é o cano onde passam todas as substâncias banheirísticas dos meus vizinhos de cima. É isso mesmo que você não quer pensar: o cocô e o xixi dos meus vizinhos de cima passam pelo meu banheiro, e consequentemente tudo que sai do meu banheiro também passa no andar de baixo. Quem diria que a melhor coisa num prédio sem elevador é morar no último andar, hein? Por que raios o cano não é do lado de fora, gente? Me disseram que por conta da temperatura fria, tudo congelaria e o cano ficaria entupido. Será possível? Algum físico ou engenheiro de plantão para me explicarem tamanha incoerência?

Continuando a citar os meus vizinhos, existem dois gatos aqui no prédio. Não, não são os vizinhos que são gatos, são os gatos que pertencem aos vizinhos (sou uma mulher casada, lembram?). Um é branco e o outro é preto. O fato é que eles sempre me assustam. Imagina você chegando, abrindo uma porta que parece de casa mal assombrada, (é grande, velha e range) naquele breu, e quando as luzes automáticas acendem, um gato preto te olha fixamente! E o gato branco faz isso nas escadas. Ele pula em direção à porta para sair, isso é, NA MINHA DIREÇAO. Porque eles fazem isso na mesma hora que as luzes acendem? Eu estou criando uma tática para ser menos assustada. Entro aqui no prédio de costas até as luzes acenderem. Fico ridícula andando de ré, mas pelo menos os sustos diminuíram. Acredito que tive sucesso!

Voltando a falar sobre minha casa, é engraçado perceber como alguns detalhes mudam bastante nosso cotidiano. Aqui não tem área de serviço e as pessoas secam suas roupas em máquinas de secar, ou em varais portáteis, ou nas lojas que se pagam para lavar e secar as roupas. Outra coisa diferente é a questão da garagem. Pouquíssimas casas ou apartamentos possuem garagem. Então, a maioria dos veículos fica na rua, e aqui parar na rua TEM CUSTO. Você pode deixar o carro em frente à sua casa, mas terá que pagar por isso. Pode pagar mais barato, porque é sua casa, mas ainda sim tem que pagar. É como se tivesse zona azul em toda a cidade. As taxas não são exorbitantes como no Brasil, mas, são taxas. O que eu penso? Que ter um carro por aqui pode ser bem caro. E é!  O que resta, então? Bora utilizar o Mercedes de motorista quase particular, ou então o metrô cheiroso daqui com suas pequenas escadas (só pra constar, há algumas ironias nesta última frase).


Em resumo, luxo por aqui não é morar na cobertura, e sim num lugar onde os gatos não te assustem, e que tenha área de serviço, garagem e cano de excrementos invisível (e também inodoro!)

Se eu descobrir mais algum detalhe, volto aqui para te contar!
Au revoir et bisou!

Hívina





quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

A sacola de cabelo

Paris, sexta semana

Bonjour, gente!
Estou de volta! Essas duas últimas semanas foram bem corridas porque mudamos de casa e também porque comecei meu curso de francês.
Nossa mudança durou incrivelmente 1h30 minutos. Isso mesmo! Acho que foi o recorde das mudanças. Nossas malas e caixas eram compostas basicamente de roupas, utensílios de cozinha e... PARTITURAS do Samuel!!!
Depois de casar eu descobri que meu marido é um acumulador. Mentira! Eu já sabia antes de casar, então não foi como descobrir da sacola de cabelo no fundo do guarda-roupa (explicarei essa história no parágrafo abaixo). Samuel guarda tudo e tem dificuldade de se desfazer de coisas antigas ou sem uso atual. Essa é a minha análise, mas ele vai negar, é claro! Acho que ele pensa: “Vai que um dia a gente precise de...” Isso é engraçado e muitas vezes ele tem razão. Esse negócio de ter “desapego” é complicado! O que é realmente uma necessidade? Uma necessidade hoje pode não ser uma necessidade amanhã e vice-versa. Mas e se a necessidade de ontem, que não é mais necessidade hoje, virar uma necessidade em 2020? O que a gente faz com as coisas, então? Desapega ou guarda?

Sobre a questão da sacola de cabelos, eu explico agora. Um dia assisti um filme com a Drew Barrymore e o Jimmy Fallon, que se chama “Amor em Jogo”. Drew é a mocinha, que conhece o Jimmy (mocinho) e eles se apaixonam. Ela fica encantada com ele e achando que está “tudo muito bom para ser verdade”. Ela tem essa sensação mas segue em frente e tenta o relacionamento. O personagem do Jimmy é apaixonado pelo Boston Red Sox, um time de basebol, e ele é daqueles que vai em TODOS os jogos, que tem todos os itens vendidos pelo clube, e que tem a decoração de casa inteirinha do time. Detalhe que às vezes o time chega a jogar 3 ou 4 vezes por SEMANA!
Bom, esse “pequeno” detalhe fica oculto no início do namoro porque a temporada dos jogos ainda não tinha começado. Os amigos do Jimmy o aconselham a contar isso para a Drew porque realmente é algo bem importante para ele e todas as namoradas anteriores do Jimmy não suportaram ficam com ele por causa do fanatismo. Então, eis que chega o dia da revelação. Ele faz todo um suspense para contar e a Drew começa a ficar com medo. Então ela diz: “Lá vem a sacola de cabelo”.
Uma amiga da Drew tinha a mania de mexer nas gavetas e armários dos namorados para procurar coisas esquisitas, para tentar averiguar se eles eram “normais”. Pois bem, um dia ela estava na casa de um namorado e quando ele saiu ela achou uma sacola bizarra no armário. Era uma sacola com várias mechas de cabelo, ou seja, de pessoas diferentes. A amiga da Drew ficou apavorada e resumiu que o namorado era psicopata. Claro que ela “fugiu” e depois contou a história para a amiga. Resumindo, a Drew estava tão feliz no relacionamento mas tinha os receios iniciais, então sempre ficava se questionando quando viria a descoberta bombástica sobre o Jimmy. Well, a sacola de cabelo que a Drew descobriu não era tão ruim assim, era só o Boston Red Sox.  Bom, durante a vida conhecemos muitas pessoas e algumas delas (ou muitas) podem ter “sacolas de cabelo” escondidas. Que medo!
No final do filme... Eu não vou contar, não se preocupem!

Saindo do cinema para a vida real, quero contar sobre o meu curso de Francês. Vou à escola de segunda a sexta e confesso que todo o ritual tem me lembrado a época do colégio. Comprar caderno novo, ter um estojo com canetas coloridas (eu sempre adorei!), fazer lição de casa, e também brigar com os colegas de classe. Mentira, eu não briguei com ninguém.
Minha professora é adorável e minha sala possui aproximadamente 12 pessoas. Há gente da Rússia, da Ucrânia, da Sérvia, da Coréia do Sul, do Japão, da Colômbia, dos Estados Unidos e também 4 brasileiros. Somos a maioria e deu vontade de cantar: “Tá dominado, tá tudo dominado...”  Na festa de despedida do curso vai ter feijoada e coxinha, oba!!
E eu nem preciso dizer qual é o pessoal mais “metido”, né? Um deles, “daquela terra”, não me cumprimenta quando me vê embora eu acene e diga “oi”. Eu aposto que ele vota no Donald Trump! Será que ele tem uma sacola de cabelo escondida no armário? 
Acho que é melhor deixar de lado o “mimimi” adolescente e ser mais madura, né? 

Au revoir, meus amigos!

Hívina

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Chovendo na Lasanha!?

Paris, terceira semana

Bonjour, gente!
Essa terceira semana em Paris foi bem corrida! Após andar de carro pela cidade, me deparei com uma cena interessante num lugar um tanto mais popular: o metrô. É muito comum ver músicos se apresentando nos corredores das estações. Há até um mini “concurso” feito para escolher quem poderá tocar nestes locais e os ganhadores ficam autorizados a se apresentar e podem angariar seus fundos, que eu prefiro chamar de couvert artístico em vez de gorjeta ou esmola. Fato é que não é comum eles tocarem dentro do vagão do metrô, e sim apenas nos corredores das estações. 
Pois bem, Samuel e eu pegamos o metrô e eis que em uma das paradas uma senhorinha entra com uma caixa de som e microfone em um carrinho, acompanhada de um senhor com escaleta, aquele instrumento que parece um “mini teclado” e que também é soprado (músicos, não fiquem bravos!). Ela coloca o playback e começa a cantar música francesa. Minha vontade é de rir muito, por conta da situação engraçada. Samuel fica contido e olha sério para mim, com puro medo de acharem que eu estou zombando. Estava zombando nada, é que uma senhora cantora, dentro de um vagão em Paris? Eu ainda sou meio turista, não estou acostumada. 
Após a música francesa, ela escolhe a da sequência e o vagão inteiro começa: “Nossa, nossa, assim você me mata, ai, se eu te pego, ai, ai, se eu te pego...” Michel Teló, obrigada! Nem Samuel aguentou! Todo mundo começou a rir e a dançar, nem que seja mexendo os pés. Ela cantou a música inteirinha em português perfeito, fiquei bem impressionada. E, me senti mais perto do meu povo.

Mudando do metrô para a parte da comida, algo muito importante na minha vida, jantamos na casa de amigos no último domingo e o menu teve “lasanha”. Ai, que delícia, comida brasileira! Quer dizer, comida italiana, mas que lembra tanto nosso Brasil que podemos chamá-la quase de brasileira. Não sei vocês, mas eu sempre como lasanha nas festas de final de ano. Acho que esse prato tem um “quê” de nobre para nós suburbanos.
Esse jantar com lasanha me fez lembrar de algo engraçado. Quando eu era pequena e não sabia ler, aprendia as coisas principalmente repetindo os outros (como a maioria de todos nós, eu acho).  Isso se aplica nos gestos e movimentos e na linguagem. Enfim, eu gostava muito de cantar, então, repetia a letra das músicas de acordo com o que ouvia. Descobri que eu tinha uma imaginação bem fértil e também um ouvido bem ruim (isso não é mais novidade). Meu irmão me contou que eu cantava músicas com letra sem sentido nenhum. Como por exemplo, “Lálá, está chovendo na lasanha...” Ou, uma outra que dizia: “Um barquinho na floresta, de Jesus o Rei dos Reis...” Oi? Chovendo na lasanha? Barquinho na floresta de Jesus? Meu irmão tirava o maior sarro de mim, dizia que eu era a pior compositora de todos os tempos. Eu não concordava porque eu não lembrava de ter inventado nada. 
Anos mais tarde, estava vendo televisão e, passando pelos canais, ouço uma música: “Lá,lá, está chovendo na fazenda...” Para tudo!!! Essa era a música, gente! Eu não estava doida! Saí toda feliz contando para o Saulo (meu irmão) que essa era a minha música e que eu só tinha mudado a letra um POUQUINHO. A música do barquinho eu confesso que ainda não achei...

Mas isso não para por aqui. A maior heresia de todas foi na Igreja. Lembro de um hino muito bonito, o número 44 do livro, que começava assim: “Amaste a mim, Senhor, ainda cintilante...” Fato é, gente, que eu cantava de outra forma: “A Márcia Bin, Senhor, ainda cintilante...”
Márcia Bin era a regente do coral, mãe de amigas minhas. É mulher de personalidade forte, muito inteligente e culta. Eu cantava o hino e imaginava a Márcia toda cheia de purpurina, afinal a letra dizia “cintilante”. Eu afirmava a mim mesma que ela deveria ser mesmo muito importante para Deus, afinal estava no hinário da Igreja Presbiteriana Independente de todo o Brasil.
Quando eu comecei a ler e descobri o que eu cantava fiquei feliz de ninguém ter descoberto tamanha atrocidade. E quando me tornei adulta sem vergonha contei essa história para a Márcia, que riu muito! 
A Sra. Bin atualmente é avó e dá show regendo o coral das crianças. Acredito que minha letra adaptada era na verdade uma profecia, Márcia é muito cintilante com esses netos e com toda essa criançada.

Um excelente final de semana para você, com muita lasanha e purpurina!
Ah, bom CARNAVAL aí no Brasil!
Au revoir,

Hívina

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Sobremesa eu tenho, só me falta o Glamour!

Paris, segunda semana

Bonjour, leitores!

No concerto realizado no último domingo encontramos uma antiga corista do Samuel (meu marido). Enquanto ele guardava as coisas, limpava a flauta e coisas do tipo, ela me abordou e perguntou se era esposa do Samuel. Entendi o francês, respondi, e elaborei algumas perguntas também. Ela era tão gentil e tão compreensiva do meu sotaque, que me esforcei para continuar a conversa. Obviamente ela falava muito mais do que eu, mas demonstrava muita paciência para me esperar raciocinar.
Meu repertório estava quase acabando e meu marido não aparecia. Ele toca flauta transversal, um instrumento pequeno, que cabe em uma mochila, relativamente simples de guardar. Fiquei imaginando que se ele tocasse tuba ou bateria eu já teria cometido um homicídio da língua francesa com aquela senhora. Cadê ele, gente? Ficamos quase naquela típica situação do elevador, sabe? Você não sabe para onde olha, dá um sorriso amarelo, comenta sobre o tempo lá fora, etc...
Samuel chegou, e papo vai e papo vem, ela nos convidou para um jantar no dia seguinte. Fiquei toda animada, isso significaria conhecer um lado mais nobre da cidade e também conhecer a rotina de uma típica parisiense. Eles falavam francês, claro, e entre uma frase e outra eu ouvi: “Depois levo vocês de carro”. O que? Eu ouvi bem? Andar de carro em Paris? Uhuuuuuuu! Que sonho, que glamour! Não julgue a minha superficialidade, é que eu nunca tive essa oportunidade. Carro não é coisa de suburbana, sempre andei no transporte público aqui. Aliás, descobri que as francesas são magras ou de pernas definidas porque anda-se muito por aqui nas ruas, nas baldeações do metrô, e quase todas as estações do metrô possuem escadas (não rolantes). Isso significa: descer e subir muitas vezes = uma perna definida = tchau Pugliese.

No dia seguinte eu fui ao MERCADO (para variar) e aproveitei para comprar uma sobremesa e um suco para levar no jantar. Já que é para visitar à sociedade parisiense, vamos ser educados, né? Meu marido chegou em casa e olhou o que eu comprei. A sobremesa, ok (era tipo um bolo sorvete). Mas o suco... Descobri que eu comprei o X-Tapa francês. Não leve a mal, eu já tomei muito X-tapa na vida comendo pastel, mas, eu errei! Não dá para levar X-tapa num jantar desse. Passamos no mercado e ele escolheu uma marca melhor.

Chegamos à casa dela! Que casa bonita! Não era grande, mas a decoração possuía muitos quadros e souvenirs, com fotos da família e também livros. Isso é um dom dos franceses, transformar um ambiente pequeno em algo acolhedor e bem decorado. Diferentemente do Brasil, a TV não é a peça central da sala. Havia uma TV na sala, mas tão escondida que eu demorei para reparar. A casa fazia parte dela e sua personalidade estava impressa em cada detalhe. Algo muito legal de explorar. Minha questão era ter muita concentração para não esbarrar e derrubar nada, ou seja, controlar milimetricamente meus movimentos. Entretanto, enquanto conversávamos ela nos mostrou um porta-retratos de prata (ou imitação de prata), com a foto de suas filhas. Fui colocar de volta no lugar e derrubei o objeto na mesa. Samuel olhou com cara de pânico para mim. Mas, não quebrou nada e tudo ficou ileso (inclusive meu casamento).

O típico jantar francês teve: muita conversa nos sofás da sala, durante um “couvert”. Depois passamos para a mesa e tivemos o prato principal: almôndegas, alcachofras cozidas e arroz. Depois disso, veio o prato derradeiro: uma salada de folhas verdes escuras (não sei o nome daquilo), junto com uma baguete e dois tipos de queijos. Nessa hora, fui cortar a baguete com uma faca que na verdade era um canivete. Coloquei o lado errado e quando forcei, a parte cortante veio na minha mão. Que susto! A dona da casa ficou olhando, com medo de eu ter que ir para o hospital (só faltava essa, hein, gente?). Mas não aconteceu nada dessa vez, também. Obrigada Jesus! Obrigada Senhor Deus dos pobres sem nenhuma classe, como eu sou.   
Voltando ao Menu, por último foi a sobremesa: uma salada de frutas e o bolo sorvete que levamos. Cada prato foi servido em uma louça diferente e eu fiquei calculando quanta coisa aquela mulher lavaria depois... São  3 pratos para 3 pessoas, mais os recipientes da comida, mais os talheres, os copos (dois para cada pessoa: um para suco e outro para água). Uau! Ainda bem que o jantar não foi na minha casa!

Durante o jantar estava bem concentrada em todo aquele francês. Mas o jantar acabou, voltamos para os sofás e o papo francês continuou. Prestar atenção e raciocinar daquele jeito é muito cansativo. Então, foi me dando sono... Eu fui me acomodando bem no sofá, e olhava para o Samuel e a senhora conversando. O que eu escutava era em câmera lenta: Blá... blá... bláaaaaaaa. Eu não entendia mais nada! Só me concentrava para não dormir ali na frente dos dois e para parecer totalmente entendida da conversa. 
Depois de algum tempo, levantamos para ir embora, e ela cumpriu a promessa. Disse que nos levaria de carro. Ai meu Deus, que emoção! Entrei no carro, e andei pelas ruas da cidade como se fosse uma boba! Avistei a torre Eiffel toda iluminada e quase chorei. Quanta bobagem romântica, né? Mas, deixa eu ter um pouquinho de imaginação na minha realidade... Agora sim avistei a cidade das luzes.

Au revoir, gente!
Beijos da suburbana



sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Ficção Científica = Banheiro em Paris

Paris, segunda semana

Enquanto meu curso de francês não começa, tenho investido meu tempo em coisas muito úteis, como por exemplo futricar a vida dos outros no Facebook, contar quantos quadrados há no azulejo da cozinha, olhar pela janela a movimentação da rua, etc... Tô brincando! Nesses dias tenho me dedicado à cozinha, à casa e ao meu marido (claro!). Na cozinha fiz uma omelete e também um macarrão com molho vermelho e frango, muito razoáveis. Deu para sobreviver e não morrer de fome! Em casa, me surpreendi com a praticidade de um aspirador de pó. Achei genial o botãozinho de puxar o cabo elétrico de volta e também adorei a possibilidade de emanar PODER sobre as sujeiras. Eu olhava para elas e me sentia uma JEDI. Então eu apontava minha arma de sabre de luz (o aspirador) e falava comigo: “Hívina, lembre-se que a FORÇA está com você”.  Pronto! Ganhei a batalha contra a sujeira. 
Desculpe minha imaginação. É que nesses dias eu também cismei de assistir toda a Saga do Star Wars. Eu nunca assisti os filmes antigos, e também nunca me interessei tanto. Só que assisti o primeiro filme (Episódio IV) e agora estou curiosa. Já assisti o Episódio V e comecei o VI. Tem umas coisas bizarras nesses filmes, né? Os alienígenas muito esquisitos, os androides sendo o núcleo cômico do filme, além dos personagens humanos estarem no espaço e respirarem normalmente em muitos lugares. Ah, também achei bem estranho o IMPÉRIO aniquilar alguns planetas com a tal arma poderosa em 5 segundos e matar todo mundo. Isso me lembrou mais a realidade cruel do Quentin Tarantino, só que sem aquele monte de sangue.

Saindo da ficção e voltando para a realidade, eu também fiz muitas coisas acompanhando o meu marido. Fomos a um concerto em uma igreja linda, que ele tocou. E também, claro, fomos ao... SUPERMERCADO!!! 
Samuel (meu marido) precisava resolver algumas coisinhas, então, me deixou no mercado para eu ir escolhendo tudo, e nos encontraríamos em frente ao caixa para ele me ajudar no pagamento em cartão (eu estava com apenas 15 euros). O detalhe é que eu estou sem celular, então, nada de contato telefônico. Tem que ser como da maneira antiga, tempos pré-tecnologia, onde combinou algo, cumpriu! 
Estava eu lá na fileira dos congelados quando minha barriga me enviou um sinal. Passei para a fileira dos doces e o ignorei. Quando fui para a fileira dos produtos de beleza o mesmo sinal voltou mais forte, dessa vez de forma bem “substancial”. É isso mesmo, gente! Eu precisava ir ao banheiro! Muitas questões surgiram em minha cabeça: “1- Largo tudo e saio correndo para casa? Não, como avisarei o Samuel? 2-Compro tudo, espero o Samuel e vamos procurar um banheiro? Não, não dá tempo. 3- Como vou perguntar em francês se aqui tem banheiro? 4- O que eu peguei no carrinho dá para pagar com 15 euros? 
Pensei rapidamente e fui para os caixas rápidos (aqui existe uma modalidade “passe você mesmo sua compra”. Você passa tudo no computador deles, e paga na máquina. Geralmente é uma ótima opção porque não tem filas e é bem rápida). No caixa rápido perguntei para a funcionária se ela falava inglês. Ela disse que não. Então, soltei meu francês desesperado: “S’il vous plâit, je voudrais aller toilette.” (Por favor, eu gostaria ir banheiro). Sei que faltou preposição e tudo mais, mas eu olhei com cara de desesperada e orei para ela entender. Ela entendeu e me apontou o andar de cima. Claro! O supermercado ficava em um mini shopping, então, tinha banheiro lá em cima. 
Fui passar minha compra no caixa rápido e... não estava funcionando! Lá fui eu para a fila de outro caixa. Enquanto esperava, calculei se a minha compra daria 15 euros e tentava lembrar do preço exato das coisas. Quando fui passar no caixa, deu mais de 15. Ahhhhh, mais essa! Fiquei chateada, mas dispensei dois itens e deu certo. Fiquei com 2 euros e pouquinho de troco.
Coloquei tudo na sacola e corri. Subi as escadas, dei uma volta no andar e... NADA! Ai, Deus, era no terceiro andar! Cheguei finalmente no banheiro e... TINHA QUE PAGAR 50 CENTAVOS!!!!! Como assim, gente, eles fazem as pessoas pagarem por só usar o banheiro? Que saudade do supermercado no Brasil onde ir ao banheiro era de graça! Ou, será que embutem isso no preço das mercadorias? Pode ser que tenha até o “Imposto do Cliente no Banheiro”
Voltando à minha vida fisiológica, “Obrigada Deus por eu ter troco do supermercado”. Coloquei a moeda na maquininha e entrei no banheiro. Olho para a parede e CADÊ O PROTETOR DE ASSENTO? Tinha o suporte, mas nada da folha. Gente, EU TÔ PAGAAAAAANDO, qual é? Vai de papel higiênico mesmo! O rolo estava tão difícil de puxar que eu pensei que fizeram um complô contra mim, ou então, que era pegadinha do Silvio Santos.

Nunca pensei que ir ao banheiro desse tanto trabalho. Agora eu dou risada, mas na hora... Acho que todo mundo passou por isso alguma vez na vida. Ficamos tão vulneráveis! 

Meu marido já estava desesperado me esperando no caixa. Eu disse a ele que os alienígenas me sequestraram e me torturaram não deixando que eu usasse o banheiro. Mentira! Eu contei toda a verdade. Ele não ficou bravo, porque com essa questão de banheiro, ninguém brinca (ou briga)! Afinal, histórias de banheiro não são Ficção Científica...

Até mais, gente!
Beijos da Suburbana



terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Cozinhar, Andar & Gelar

Paris, 5º e 6º dia

Domingo em Paris, domingo no parque. Quer dizer, se tivesse calor, né? Mas não estava. Resolvemos ir à igreja e o itinerário precisava de dois ônibus. Mas, sem problemas, uai! Aqui é o país do transporte que funciona! Pegamos o primeiro ônibus, tudo certo, claro! Ficamos esperando o segundo ônibus, que demoraria 11 minutos segundo o já elogiado cronômetro do abrigo. Quando eu já estava feliz que o cronômetro zerou, porque estava bem friozinho, o ônibus não apareceu e o cronômetro foi para 18 minutos... WHAT??? Como assim, gente? Até aqui esse negócio de ônibus no final de semana é complicado? Nos atrasamos muito e resolvi voltar para casa.

Samuel foi para um ensaio (para variar!) e eu fiquei em casa fazendo hora. O que eu poderia fazer? Pensei em fazer exercício físico, mas sem chance eu sair para andar na Cidade Universitária (bem próxima daqui) nesse frio. Fiquei pensando até que tive a genial ideia de... COZINHAR! Já posso ouvir um “que o Senhor proteja as panelas, o fogão e tudo o mais que ela puser a mão”.
Então, eu peguei a sobra do arroz do dia anterior, abri meu belo livro da Dona Benta (obrigada, Glaucia!) e abri na página dos “bolinhos de arroz”. Faltava alguns ingredientes, mas mesmo assim, vamos lá! Dizem que o melhor ingrediente é o amor. Cozinhei o arroz no leite e depois coloquei farinha e ovos. No lugar do queijo parmesão eu usei emmenthal pois é o que tinha em casa. Não tinha noz moscada e nem salsinha, então eu coloquei a pimenta que tinha aqui. Pensei em colocar o tempero baiano que minha sogra usa mas fiquei com medo e não coloquei (nada contra, viu, sogrinha?). Também pensei em ir no quintal pegar uns matinhos só para ter algo verde no bolinho, mas desisti. Mentira, gente, eu não iria colocar capim no bolinho.
Vamos à parte complicada: eu não tinha óleo, só manteiga. Meu marido disse que era só substituir, que não tinha problema. Mas ele só queria me animar, porque não deu certo como deveria não. A manteiga não era suficiente, então na hora de fritar, não ficou tão bonito, né? Mas, olha, apesar de tudo, fiquei feliz com o resultado e até tirei uma foto. Meu marido comeu e gostou. Acho que o amor é cego e também sem paladar. Podem pedir perdão ao Senhor todos vocês que julgaram que a cozinha estaria destruída...




Na segunda-feira, tomamos uma decisão que iria mudar minha vida aqui em Paris: eu iria fazer um NAVIGO. Esse negócio é o Bilhete Único daqui e você pode carregar pela semana, ou pelo mês e ano. Pagando a taxa, você utiliza o transporte quantas vezes quiser no dia. Sabe o que isso significa? LIBERDADE!!! Estou exagerando, mas é legal sim! Todo mundo se sente francês com esse tal de NAVIGO. Com ele você passa rápido na catraca, faz cara de nativo sabe tudo, e pronto!

Meu marido delegou a missão de eu ir sozinha fazer esse negócio. Ensaiamos o discurso em francês, eu coloquei uma roupa legal e saí toda bonita. Eu andei bastante a pé para chegar na estação porque o melhor lugar não era na estação aqui pertinho. Atravessei toda a cidade universitária daqui, acho que deve dar uns 5 km. Mentira, dá uns 800 metros até lá só de ida. Cheguei no balcão, e falei direitinho: “Bonjour, s’il vous plâit, je voudrais faire une carte de Navigo” (bom dia, por favor, eu gostaria de fazer um cartão Navigo). A funcionária me olhou e entendeu meu francês! Me perguntou se eu tinha levado os documentos necessários. Eu entendi e entreguei tudo para ela. Ela me olhava, olha os documentos e me olhada de volta. Aí, eu percebi que tinha levado um documento errado! Ai, meu Deus! Ela não aceitou fazer o cartão, claro! E ficou me olhando com cara de desconfiada. Minha senhora, eu sou honesta, viu? E então, eu cantei: “você não sabe o quanto eu caminhei pra chegar até aqui...” Mentira, não cantei não. Mas eu voltei todo o percurso morrendo de frio. Eu simplesmente não sentia o meu nariz! Coloquei o cachecol cobrindo o rosto inteiro, só dava para ver os olhos. Descobri que para mim não há glamour no frio. Fiquei brega, mas quentinha.
Cheguei em casa, tomei um chá para me aquecer, e depois voltei na estação com o documento correto. Fiquei chateada de ter que voltar lá, afinal eu não prestei atenção. Mas, pensando pelo lado positivo eu faria o meu exercício do dia. Calculando 800 metros por 4 dá um bom percurso. Que Pugliese que nada! Eu mesma monto meu programa de exercícios, basta esquecer sempre alguma coisa.  

Resultado da missão "Navigo": Sucesso! Consegui o cartão, venci o frio e fiz exercício físico. Vou ali desfrutar da liberdade de ir e vir do transporte francês e já volto para contar mais.

Beijos da Suburbana!